Vamos falar de crise?

De tudo o que já se falou sobre a atual crise, um aspecto me parece sobressair: o forte componente ético associado ao desabamento que estamos vivenciando.

Embora muita gente importante tenha se manifestado a este respeito, gostaria de recolher três opiniões de origens bastante distintas, mas que apontam na mesma direção.

Em primeiro lugar, temos o pensador brasileiro Eduardo Giannetti. Em seu excelente livro “Vícios Provados, Benefícios Públicos?” , ele já argumentava, em 1994, que a ética é essencial para o funcionamento do capitalismo.

Depois temos o papa Bento XVI, que vem repetidamente lembrando o quanto esta crise atual é, principalmente, uma crise de valores.

Por último, refiro-me a uma reportagem de capa recente da revista Exame, que se pergunta “O que deu errado com o Bônus?”.

Em comum, aponta-se para a ganância excessiva como uma das principais fontes do problema.

Alguns ideólogos jurássicos e oportunistas estão a regozijar-se com a crise como sendo “o fim do neoliberalismo” e até mesmo “o fim do capitalismo” (!)

É evidente que não se trata disso. O Socialismo que tais críticos defendem provou desastrosamente seus resultados. E mesmo o welfare state de tipo europeu há tempos encontra-se em um beco sem saída. Foi justamente o “neoliberalismo” que permitiu um dos mais longos e prósperos ciclos de crescimento econômico na história contemporânea, retirando milhões de pessoas da miséria em diversos países em desenvolvimento.

Portanto, temos o paradoxo de que a liberdade econômica e estímulo ao empreendedorismo de tipo norte-americano foram ao mesmo tempo os causadores tanto do longo período de pujança econômica quanto do atual desabamento dos mercados. Ou seja, a “ganância” levou ao longo período de forte crescimento, mas foi também a causa do desastre.

Quando – e onde – encontraremos o meio termo?

O discurso de governos e economistas tem ido na direção de “maior regulamentação”. Ora, regulamentação não tem faltado. A lei Sarbanes-Oxley (SOX) é draconiana em seus controles. Nunca houve –teoricamente, ao menos- tanto controle, tanta transparência, tanta boa governança, tanto acesso à informação das empresas quanto temos hoje. E nada disso adiantou… Será que ainda mais regulamentação resolverá o problema? Ou será que o buraco é mais embaixo?

Voltaremos ao assunto.

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